Acordo assustada na rede, tiro o cobertor do rosto e vejo pela grade do portão que o barulho de fora é o vizinho jogando caixas e caixas de entulho, latas de suplemento alimentar no jardim. Quando ele volta rumo à casa, cubro os olhos com o cobertor roxo e peludo.
Lá de dentro, a luz nublada entra violeta, joelhos flexionados e pernas abertas formam um barraquinho tomado pela nuvem de cheiros saindo da minha calcinha. Vez ou outra, emerjo olhos e nariz para espiar, coloco as mãos para fora, balanço as folhas da oliveira.
Mergulho novamente.
Esfrego as mãos no rosto ainda sonolento na tenda violeta e tudo se interrompe pelo perfume do sabonete de castanha. Passo a língua pela ferida nos meus lábios.
Respiro.
*Desenho do Fernando José Karl – Priscila e o daimon