Verão (ou mais uma versão do grande vidro)
Às vezes penso tanto
em gente,
que fico enjoada de vontade
o estômago embrulha
vou ficando aérea meio lesma voadora
até que outro corpo me tome de assalto
e alegria
e me devolva as patas ao chão
BUM!
Pegadas
Cheiro que não o meu
a dar baforadas do pescoço
ao nariz,
um saco de porra que me olha
e olha
até que perca o juízo
e vire um menino da boca curiosa,
um cigarro fumado que caiu da janela
gordo de chuva
no pátio,
dor nos músculos entre-coxas e virilha,
me umedeço em momentos inapropriados
por três dias,
mais ou menos,
umas mordidas se repetem sem corpo
enquanto corro os olhos no vidro do ônibus.
Rastros de um bichinho fugidio
que eu gosto
de ver
brincar
se perder por aí.
Bicha loca
Digo direi, de verdade: eu estava bêbado de meu.
Ah, esta vida, às não-vezes, é terrível bonita, horrorosamente,
esta vida é grande.
G. Rosa
Teve um dia
que eu encontrei, naquele bar que elogia o marido da Elza,
o ex-patrão que PUXOU O MEU CABELO
larguei os amigos na calçada
e caminhei
vagarosamente
enquanto seus olhos se agarravam nos meus
em brasa
EU GRITO
EU GRITO
EU GRITO
e o senhor se esconde atrás do dono do bar
que ao sinal de comando
abana o rabo e vem atrás de mim
pedir o copo de volta.
Minhas mãos desobedecem
e ouço cacos na sarjeta,
desfilo,
sem olhar pra trás,
nem pra baixo.
O boy do tinder me oferece carona,
que eu recuso,
orgulhosa e bêbada
pra dar às mãos à lua cheia
que decide dar a minha mochila (umdoceumbegumcaderninho)
ao homem da rua
que espia,
camisa branca,
atrás da árvore.
Caio no chão,
mordo sua mão que me amordaça
com toda a força do meu ser
– como sempre sonhei fazer em pele viva –
Grito que sou o capeta e vou matá-lo,
ele soca meu olho, dou chutes desesperados
GRITO
ele corre com o prêmio nas costas
Eu ganho arranhões na bunda,
um olho roxo, a boca inchada.
Rebolo a raba no espelho,
tiro uma foto,
conto pra todo mundo
orgulhosa.