
Ora silêncio, ora alarde. Ora plural, ora singularidade. Sempre liberdade, exposta. Eriçando os poros, enfeitando a vida, estampando leveza nos dias. Ora vento, ora tempestade. Ora medo, ora coragem. De repente, saudade de si. Saudade do que poderia ser, não sendo. Do sonho não sonhado, do desejo não desejado, da busca não buscada. Saudade de qualquer vontade despertada na distração da alma. Sem pressa de chegada. Sem urgências desnecessárias. Sem sobra nem falta: precisa. Somando os riscos. Celebrando a sabedoria do não saber contínuo. Concebendo-se ser por instantes, instintos urgentes. Vividos na vida, trazidos no espírito.
Ora perguntas, ora respostas e dúvidas muitas, duvidando do que veem os olhos. Ora janelas abertas namorando os fins de tarde, ora portas fechadas a setes chaves. Histórias longas e estórias tantas – sementes esperando virar frutos. Manhãs doces e noites amargas – sensibilidade aflorada. Floreando o outro : despetalando a si própria : serenando almas muitas. Oscilações diversas, contrários complexos, metades completas, sorrisos largos – frouxos, às vezes, escudos. Fuga, refúgio do mundo – azedamente mudo. Carecido de um olhar terno, eternizando afeto dentro.
Ela transborda, eu desaguado. Ela constrói, eu desabo. Ela é fortaleza, eu fracasso. Ela é doçura, eu amargo. Ela é caminho, eu atalho. Ela persiste, eu preguiço. Ela agrada, eu agrido. Ela agrega, eu segrego. Ela é mar, eu margem. Ela é mudança, eu imutável. Ela é ânimo, eu cansaço. Ela é intento, eu tempo adentro inércia. Ela vive para somar, eu vivo para sumir. Ela vive para sonhar, eu vivo para sofrer e me conquistar (a cada segundo) para viver. Ela é amiga rara, eu inimiga da minha própria alma. Ela pressente, eu sinto apenas – derramo pelas beiras. Ela é anjo sem asas, eu o diabo encarnado. Ela cuida, eu maltrato. Ela esvazia, eu sou vazia. Ela é encontro, eu entrega. Ela é certeza, eu o incerto. Ela é seriedade, eu comédia. Ela é sossego, eu aventura sempre. Ela espera, eu esqueço. Ela é esperança, eu desespero. Ela é encanto, eu vivo num canto. Ela é ninho, eu passarinho sem dono. Ela é fina, eu trapo. Ela é discreta, eu dispersa a realidade. Ela é mistério, eu mistura de cores e tons. Ela é amor, eu desafeto. Ela é mulher, eu moleca. Ela é verdade, eu invento. Eu sou reflexo, ela meu espelho.