antes de alcançar a altura do espelho
foi na água que se viu refletida
em um salto buscou o abraço na lâmina fria
para encontrar sobre a pele as marcas do apressado resgate
não fazia ideia de si
era no outro, ao alcance da mão, que se reconhecia.
cresceu sem água na torneira
ou ducha no banheiro
do olho d’água lhe chegava os goles
da cacimba e das chuvas os banhos
do recolhido nas bicas a alvura dos lençóis
da aurora o véu delineando contornos em espelho de cristal.
cercada de rios e vidros
quando a chuva cai sobre a noite diz ser preciso parar e ouvir
é no tímpano que a água ressoa e faz brotar os espelhos
lava e leva tudo no seu fluir eterno
como no primeiro dia ainda crê que renasce do emergir
e que no reflexo haverá o outro a se repetir em breves desvios.
[Foto: Maria Dimas Ribeiro Lages]