Carro na esquina, vidro meio aberto.
“Você chupa?”
“Sim”, responde um timbre grave. Ela entra com pressa e errada. Vestido muito curto. O carro sai à mil.
“O programa é…”
O outro não quis saber. Calou com o dedo entre os lábios, pediu silêncio. O dinheiro não importa.
Ao volante, olhou de lado: peruca feia, lentes azuis e unhas vermelhas postiças.
O carro… Delíriou’s Motel.
Agora tira o tênis, meias, calça. Vê o próprio pau duro, mas confuso. O desejo aponta as estrelas de um céu iluminado com neon. Ela tira o vestido de onça: um pau molenga, mas lateja. Ele quer que chupe, ela quer que chupe. Ela paga a prenda.
Depois ele vai no cu com vontade e terror. Sente o quarto muito mais frio: unhas arroxeadas, mãos dormentes, pernas fracas. Ele vê aquela bunda cabeluda e uma nesga de saco escrotal. A boca se enche de saliva amarga de vômito. Goza gritando com fúria.
O pau ainda duro se mistura com saliva e mancha de batom rosinha, como um bico de teta virgem. Goza mais uma vez, na boca, no queixo, naqueles peitos siliconados.
Ele se veste com medo. Medo de ser apanhado pela consciência, pela dor, pelo pau do outro. O carro de volta à esquina, o carro mais veloz.
“O programa é cinquenta”, ela diz. Leva um soco na cara e outro no estômago. A cabeça de encontro ao porta-luvas, o outro forçando a nuca. A peruca cai, sangue no nariz. Ele estende dez reais e mete outro murro.
Ela apanha a nota, guarda discreta na bolsa, de onde vem um brilho prateado no escuro da noite. A lâmina de tesoura corta a barriga dele bem abaixo do umbigo. De leste a oeste; é veloz e sem piedade. Ela dá outro golpe no olho direito e foge os saltos esquecidos no banco dianteiro.
Primeiro umas gotas, depois uma mancha de sangue escuro na virilha úmida. Da boca sangrenta de corte intestino grosso e fezes caem no tapete do carro. Ele sente a língua frouxa. Dá tempo de meter a aliança na mão esquerda. Uma lágrima cai do olho sadio. Morre filho, morre em paz.