DA TERRA E DO MAR
Aos
pescadores de Ali Hoca
porque julgou o mar
gerar a vida
e sobre a fertilidade da terra
vê-la edificada
à distância
não a percebe mutilada.
do ventre agonizante
nega-se a acolher as sobras
e em pequeno frasco
arrastado pelas ondas
sua voz propaga.
porque julga o mar
gerar vida, em nova escala.
(set/2015)
ACALANTO DE PRIMAVERA
Aos
anjos de Khan Sheikhoun
Velo teu sono, ó lua! Clamo por teu nome, ó adorado!
quem vos trouxe a mim em dias de vida suspensa? abrigo-vos dos roncos que inquietam a inocência. amparo-vos na certeza das paredes intactas, ou do sangue que não se esvai.
sopra a brisa e juntos respiramos o medo, disfarçado de alívio. inspiramos o silêncio que sufoca o ar, exalando a noite sobre a manhã de abril.
teu corpo balança em minhas mãos, ó adorado! no teu corpo murcha a primavera, ó lua!
sem flores ou preces orvalhadas de adeus.
em ato reverso retomo o inverno sob as pupilas contraídas do mundo.
(abr/2017)