O gato e a velha senhora

Vivendo sob o mesmo teto, ao gato cabia as mesmas reações diante de um céu nublado.

Rezar, não rezava. Mas se punha debaixo da rede como se escutasse o debulhar das contas, respondendo na hora certa com miados rasos que mais pareciam suspiros.

Medo, não é lícito dizer que tinha. Porém era o primeiro a meter-se embaixo das cobertas quando o céu vinha abaixo acompanhando o clarão entre nuvens densas e trovoadas. Aliviava-se, via-se pelo encompridar das pupilas, ao sentir o cheiro exalado pelos ramos bentos incinerados para espantar os males.

Saudade, não se pode afirmar que ao bichano acudiam sentimentos. No entanto ele entrava e saía dos cômodos percorrendo corredores, escalando paredes dos quartos, arranhando a porta da sala em desespero sempre que a ausência dela se fazia presente.

Foi visto pela última vez na primeira tempestade caída sobre a terra que cobriu o corpo dela. Deram notícias de um gato suspirando sobre o muro do cemitério como se respondesse às contas debulhadas. Foi na mesma noite em que da chaminé ao lado subia a fumaça de ramos bentos incinerados. Assim como ela, ele encontrara nova morada.

Imagem base: reprodução do site Pixabay, aqui usada com filtro.
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