Profecia

Quando chegar o tempo dos dois corpos sem viço serem encontrados, já não haverá o brilho do fogo que lampeja nos olhos umedecidos. Muito menos a rigidez dos músculos irrigados pelo sangue apressado de fulgor. Na cama, apenas o que parece ser o pulsar de um peito ensandecido à procura de abrigo entre pele ressequida e as curvas de um dorso sem cor.

Assustados, os sobreviventes, que invadirão o velho sobrado, vão jurar que sentiram o calor da mão erguida (apesar dos dedos sem vigor) e um odor alucinante. Como se suas narinas tivessem sido atravessadas pelo sopro de uma noite sem estrelas, tangido por ondas de um mar sem rumor.

Um deles, em choque, repetirá as palavras ouvidas como se elas pudessem se dissolver no ar: o que o tempo não levou cumprirá profecias em memória dos que conheceram o amor.

Crédito imagem: Pixabay License Free

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