duas mil noites atravessam os meus dedos
lá fora o mundo precisava inexistir, de espera — o som
de dentro do quarto o martelar de uns gestos — únicos
ainda seca, crua demais, por fim indissolúvel — a colcha vazia
até virem os olhos fechados, o escape, a ternura imaginada, o ímpeto
zooms por baixo das tentativas movimentam-se a uma fresta meredith-monk
de pecados sem lâmpadas, a respiração que se perde, violinos tocando cantatas
o tempo todo
na cabeça
o poema transvira-se
e é quando mantenho a impressão de que
umedecendo-se entre um desvão de serenidade e loucura
todas as palavras passaram por mim
aturdidas, sem sintaxe, galopantes, rapidamente, e mais, ao mais…
ainda, preguiçosas-já, distendidas, e(n)fim
vasculham duas mil estrelas as noites já sem pudor, esvoaçantes, lá
na parede do quarto, tremulando, telas floral fields — os seus
céus azuis, alaranjados, três linguagens se arrepiaram a toque de caixa
e tudo verdeia de novo
devagar
impresso é de certo o gosto de combinar as palavras —
(que) redemoinham por dentro, entram e saem, esticam-se, crescem —
o humano, a carne, no chão, pro céu, que escorre —
em cinco pontas, penetrando, indispondo, e lambendo, e entrecursando
a noite
como rio
de um poema
que se espera de
vorar
